domingo, 22 de julho de 2012

Belle.

Ao morrer do Sol
Deitar de nuvens no horizonte
Coroa branca de seda sobre o verde vidro do mar
Ouro brilho de tantas centelhas
Ruivo descansar

Helena.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Jogos de azar.

Tinha três opções, todas elas convidativas por demais, e não se sentia inclinada a descartar nenhuma delas. A primeira, primeira apenas pela sistemática que exige uma coisa escrita, tinha olhos decorticadores, cochas grossas e pouquíssima vergonha, embora soubesse com ares de mestre se colocar em qualquer ambiente sem causar indignação. A segunda não parava nunca com os olhos e lhe parecia que os miolos saltavam da cachola mais do que os seios do decote, um doce de menina, lábios literários de mel. E por fim a terceira, bem feita de corpo, uma morena-jambo, sabor tangerina, sorrateiramente libidinosa como uma boa mulher casadoira não deveria ser. Todas, sem dúvida alguma, razões mil de loucuras e depravações. E como o contrário era opção que não existia, caminhou ladeira abaixo, cambaleando de tesão por entre estas flores viva; obras-primas da grande mãe natureza.

E sendo assim, poderia pôr no afeto exacerbado não a justificativa (posto que não ha lei que aceite justificativa alguma, exceto em caso de doença grave dos nervos), mas sim a razão sobre-humana dos fatos terem chegado a fatos, mesmo depois de muito pensar. Mas não vem ao caso. O objetivo agora é muito mais recapitular tumulto e delícias do que contar uma história qualquer. De início saiba: será breve.

Embaralhou as cartas e retirou arbitrariamente do pequeno monte a de número três. Depois de meia volta pela sala atendeu ao telefone e aceitou o convite para um fim de semana na casa de praia. Casa cheia e lá estava ela; um lago tranquilo brilhando ao sol. Importante ressaltar que por pouco este encontro não teria acontecido por motivo fútil de ela ter que trabalhar, mas a pedido de uma colega este mal não veio a termo. Conversaram pouco, se olharam repedidas vezes. E, num ir e vim de escadas, imprensou sem esforço aquele corpo moreno contra a parede. “Linda!” Disse bem quentinho ao ouvido e depois sorriu já saindo. Rosa era a tarde que também saía e ali as guardou do tempo e dos olhos outros que não os seus a consumi-la. Foram do campo ao império, tudo enfim.

A brevidade agora estala os dedos. É chegado o fim, prematuro fim. Deve mesmo ter sido uma terrível enfermidade que lhe tomou a força o juízo, ou coisa pior. Pensou e repensou com os olhos lá nos longes daquele lago tranquilo – úmido brilhante e tranquilo – e por ele se enfeitiçou. Rasgou e tocou fogo nas cartas fartas soltas em suas mãos num despautério sem igual. Aguardou as horas todas que um sentimento maior exigi e sofreu antecipações absurdas que lhe roíam friamente as entranhas. E assim, pôs fim aos jogos de azar e amarrou um laço de fita na ponta do dedo, fez deslizar a aliança e casou-se num dia de sol defronte ao mar.

Helena.